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Sermão Eleição por C. H. Spurgeon




Um Sermão (Nº 0041-0042)
Pregado na Manhã de Domingo, 02 de Setembro de 1855 pelo
Reverendo C. H. Spurgeon
Na Capela de New Park Street, Southwark– Inglaterra

“Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade, para o que também vos chamou mediante o nosso evangelho, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo” (2 Tessaloninceses 2:13-14).

Se não houvesse outro texto na sagrada Palavra, à exceção deste, penso que todos deveríamos ser prontos para receber e reconhecer a fidelidade da grande e gloriosa doutrina da pré-eleição da família de Deus. Mas parece haver um inveterado preconceito na mente humana contra essa doutrina; e embora a maior parte das demais doutrinas sejam recebidas pelos cristãos professos (algumas com cautela, outras com prazer), essa ainda parece ser a mais frequentemente desprezada e rejeitada. Em muitos de nossos púlpitos ter-se-ia como um pecado grave e traição pregar um sermão sobre a eleição, porque eles não fazem dela o que chamam de discurso "prático". Acho, então, que eles estão enganados. O que Deus revelou, ele o fez com um propósito. Não há nada nas Escrituras que talvez possa, debaixo da influência do Espírito Santo, ser convertido num discurso prático: pois "Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil" para alguns propósitos espirituais úteis. É verdade que isso não pode ser convertido num discurso de livre-arbítrio – aquilo que bem sabemos – mas pode ser convertido num prático discurso da livre graça: e a prática da livre graça é a melhor prática, quando a doutrina do imutável amor de Deus é trazida para sustentar os corações de santos e pecadores.

Agora, acredito que alguns de vocês nessa manhã estão espantados com o verdadeiro sentido dessa palavra, e vão dizer: "Eu darei ouvidos a ela completamente; vou deixá-la a par dos meus preconceitos; eu ouvirei o que esse homem tem a dizer, apenas." Não tapem seus ouvidos e digam de imediato: "É uma doutrina tremenda!" Quem autorizou vocês a chamarem-na de tremenda ou terrível? Por que vocês se oporiam à doutrina divina? Lembrem-se o que aconteceu às crianças que zombaram do profeta de Deus, e exclamaram: "Sobe, calvo! Sobe, calvo"! Não digam nada contra as doutrinas divinas, com receio de que talvez algumas bestas-feras viriam da mata e lhes devorariam também. Há outras desgraças ao lado do amplo julgamento dos Céus – cuidado para que elas não lhe passem pela cabeça. Deixem de lado seus preconceitos: ouçam o que as Escrituras dizem; e quando vocês receberem a verdade, se Deus tiver a vontade de revelá-la e manifestá-la às almas de vocês, não tenham vergonha de confessá-la. Confessar que vocês estiveram errados ontem é apenas reconhecer que vocês são um pouco mais sábios hoje, e ao invés de ser uma auto-repreensão, é uma honra para os julgamentos de vocês, e mostra que estão se aperfeiçoando no conhecimento da verdade. Não tenham vergonha de aprender, e de jogarem fora suas antigas doutrinas e opiniões; ocupem-se naquelas que vocês talvez percebam estar de modo mais claro na Palavra de Deus. Mas se vocês vêem que elas não estão na Bíblia, o que quer que eu diga, ou qualquer que sejam as autoridades que eu defenda, eu imploro a vocês, tal como amo suas almas, que as rejeitem; e se desse púlpito vocês sempre ouviram coisas contrárias a essas Sagradas Escrituras, lembrem-se que a Bíblia precisa estar em primeiro lugar, e que o ministro de Deus precisa descansar debaixo delas. Não devemos ficar de pé sobre a Bíblia para pregá-la, mas precisamos pregar com a Bíblia acima de nossas cabeças. Depois de termos pregado, estaremos cientes de que a montanha da verdade é mais alto do que nossos olhos possam vislumbrar; que as nuvens e a escuridão estão ao redor de seu cume, e que não podemos discernir seu ponto mais culminante; ainda assim, tentaremos pregá-la o melhor que podemos. Nada mais posso dizer disso antes de fazer uma introdução.

Agora, em primeiro lugar, vou falar um pouco acerca da veracidade dessa doutrina: "Deus de antemão vos escolheu para a salvação". Segundo, eu tentaria provar que a eleição é absoluta: "Ele vos escolheu de antemão para a salvação", não para a santificação, mas "através da santificação do Espírito e da fé na verdade". Terceiro, essa eleição é eterna, porque o texto diz "Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação". Em quarto lugar, ela é pessoal: "Ele vos escolheu". Então olharemos para os efeitos da doutrina – veremos o que ela faz; e finalmente, se Deus assim nos capacitar, tentaremos ver e buscar por suas tendências, e verificar se ela é uma doutrina deveras terrível e licenciosa! Iremos à flor e, tal como autênticas abelhas, ver se há nelas algum mel, qualquer que seja, se dela vem alguma bondade, ou se ela é uma imiscível, insolúvel maldição.

I. Em primeiro lugar, preciso testar e provar que essa doutrina é VERDADEIRA. E deixem-me iniciar com um argumentum ad hominem; vou falar com vocês de acordo com suas diferentes posições e opiniões. Há alguns de vocês que congregam na Igreja Anglicana, e estou feliz de vê-los aqui. Ainda que eu diga aqui, agora e corretamente, algumas coisas duras sobre a Igreja e o Estado, ainda amo a antiga Igreja, pois ela tem em sua comunidade alguns ministros de Deus e santos iminentes. Sei que vocês são grandes crentes no que seus Artigos declaram ser a doutrina. Dar-lhes-ei algo do que eles entendem ser, de modo unânime, a eleição; de modo que, se vocês acreditam neles, não podem deixar de receber a eleição. Vou ler para vocês um trecho do artigo 17 sobre a Predestinação e Eleição:

"A predestinação para a vida é o eterno propósito de Deus, pelo qual (antes da fundação do mundo) ele a decretou a nós por seu secreto conselho, para livrar da maldição e da perdição aqueles que ele escolheu em Cristo fora da humanidade, e de trazê-los a Cristo para a eterna salvação, tal como o vaso de honra. O motivo pelo qual eles sejam gratos a tão excelente benefício divino pode ser dito de acordo com o propósito divino para o operar de Seu Espírito no tempo devido: eles, pela graça, obedecem ao chamado: são livremente justificados; são feitos filhos de Deus por adoção; são feitos segundo a imagem de seu Filho Unigênito Jesus Cristo; eles caminham religiosamente nas boas obras, e finalmente, pela misericórdia de Deus, eles alcançam a felicidade eterna."

Agora eu penso que qualquer fiel, se ele sincera e honestamente acredita na Madre Igreja, deve ser um pleno crente quanto à eleição. Em verdade, se ele vai a outros determinados trechos do Livro de Orações, ele encontrará coisas contrárias às doutrinas da livre graça, e se porá em conjunto à parte do ensino escriturístico; mas, se verificar nos Artigos, ele precisa ver que Deus escolheu seu povo para a vida eterna. Não sou um amante desesperado, entretanto, do livro tal como vocês podem ser; e eu apenas usei esse Artigo para mostrar-lhes que se vocês se submetem à Lei da Inglaterra, deveriam ao menos não oferecer objeção alguma a essa doutrina da predestinação.

Outra autoridade humana com quem eu poderia confirmar a doutrina da eleição é a do Credo Valdense. Se vocês lerem o Credo dos antigos Valdenses, deles surgido no meio de atenta chama da perseguição, verão que aqueles famosos professores e confessores da fé cristã receberam-na de modo mais firme e abraçaram essa doutrina como uma porção da verdade divina. Eu copiei de um antigo livro de Artigos da fé deles:

"Que Deus salvou da corrupção e da perdição aqueles a quem Ele escolheu desde a fundação do mundo; não por disposição alguma, fé ou santidade que estivesse neles, mas meramente por sua misericórdia em Jesus Seu Filho, passando a todos os outros de acordo com o irrepreensível motivo de Seu próprio livre-arbítrio e justiça."

O que eu prego, então, não é novidade; nenhuma nova doutrina. Adoro proclamar essas fortes e antigas doutrinas, que são chamadas pelo nome de Calvinismo, mas aquelas que são realmente e seguramente a verdadeira revelação de Deus como ele é em Cristo Jesus. Por essa verdade eu faço uma peregrinação ao passado, e vejo, pai após pai, confessor após confessor, mártir após mártir, em pé para me cumprimentar. Fosse eu um Pelagiano, ou um que acreditasse na doutrina do livre-arbítrio, e eu teria que andar por séculos totalmente só. Aqui ou acolá um herético de nenhum caráter poderia surgir e me chamar de irmão. Mas apoderando-me dessas coisas para serem meu padrão de fé, vejo as terras de anciãos com meus irmãos na fé – contemplando multidões que confessam o mesmo que eu, e reconhecem que esta é a religião da própria igreja de Deus.

Também lhes darei um excerto da antiga Confissão Batista. Somos batistas nessa congregação – a grande parte de nós em qualquer porcentagem – e gostamos de ver o que nossos próprios pais escreveram. Há apenas dois séculos atrás os batistas se reuniram em assembleia e publicaram seus artigos de fé, para pôr fim a certas indagações contra sua ortodoxia que tinham se espalhado pelo mundo. Eu me voltei a esse velho livro – que eu já havia publicado [A Confissão de Fé Batista (1689)] – e encontrei o seguinte em seu Artigo 3º:

"Pelo decreto de Deus, pela manifestação de sua Glória, alguns homens e anjos são predestinados ou preordenados à vida eterna através de Jesus Cristo para o louvor de sua gloriosa graça; outros são deixados a agir em seus próprios pecados para sua justa condenação, para o louvor de Sua gloriosa justiça. Esses anjos e homens assim predestinados e preordenados são particularmente e imutavelmente designados, e seu número é tão certo e definido que não pode ser acrescido ou diminuído. Aqueles da humanidade que são predestinados à vida, Deus, antes da fundação do mundo, de acordo com Sua vontade eterna e Seu propósito imutável, e o secreto conselho e imenso prazer de Sua vontade, tem escolhido em Cristo para a glória eterna fora de sua perfeita graça e amor, sem qualquer outra razão na criatura como condição ou causa a mover-lhe a isto."

Para com essas autoridades humanas, cuido para não ser precipitado com nenhuma das três sequer. Não me importa o que dizem, pró ou contra a essa doutrina. Eu apenas as usei como um tipo de confirmação de suas crenças, para mostrar-lhes que, ainda que eu, num momento, estivesse criticando como um herege ou um hiper-calvinista, depois de tudo isso estaria de volta à antigüidade. Todo o passado se põe à minha frente. Não cuido do presente. Deixem o presente surgir em meu rosto, não me importo. Não é problema, entretanto, o quanto um número de igrejas de Londres têm esquecido das doutrinas divinas, grandiosas e fundamentais. Se um punhado de nós se mantiver sozinhos numa manutenção nada vacilante da soberania de Deus, se, sim, somos cercados pelos inimigos, e até mesmo pelos nossos irmãos em Cristo, que poderiam ser nossos amigos e colaboradores, não é problema, se você pode considerar o passado; o nobre exército de mártires e a gloriosa hoste de confessores são nossos amigos; as testemunhas da verdade ficam em pé à nossa frente. Com estes por nós, não poderemos dizer que estamos sós, mas poderemos exclamar: "Eis aí Deus reservou para junto de si sete mil que não dobraram seus joelhos diante de Baal." Mas o melhor disso tudo, Deus está conosco.

Essa grande verdade sempre é a Bíblia, e somente a Bíblia. Meus ouvintes, vocês não acreditam em qualquer outro livro mais do que na Bíblia, acreditam? Se eu pudesse provar isso através de todos os livros da cristandade, se eu pudesse buscar na Biblioteca de Alexandria, e provar isto desde aquele lugar, vocês não precisariam acreditar nisso nunca mais; mas certamente crerão no que está na Palavra de Deus.

Eu selecionei alguns textos para ler a vocês. Gosto muito de dar-lhes um apanhado geral de textos quando fico com tanto receio de que vocês deixem de acreditar numa verdade, que ficarem tão perplexos em duvidar, se não crêem realmente.

Apenas deixem-me percorrer uma seleção de passagens onde o povo de Deus é chamado de eleito. Ora, se as pessoas são chamadas de eleitas, então deve haver eleição. Se Jesus Cristo e seus apóstolos são acostumados a chamar os crentes pelo título de eleitos, certamente acreditamos que eles o sejam, a menos que o termo nada signifique. Jesus Cristo disse: "Não tivesse o Senhor abreviado aqueles dias, e ninguém se salvaria; mas, por causa dos eleitos que ele escolheu, abreviou tais dias." "Então, se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! Ou: Ei-lo ali! Não acrediteis; pois surgirão falsos cristos e falsos profetas, operando sinais e prodígios, para enganar, se possível, os próprios eleitos." "E ele enviará os anjos e reunirá os seus escolhidos dos quatro ventos, da extremidade da terra até à extremidade do céu." (Marcos 13:20, 22, 27) "Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defendê-los?" (Lucas 18:7) Em conjunto com mais outras passagens que poderiam ser selecionadas, onde tanto o termo "eleito", ou "escolhido", ou "preordenado", ou "apontado" é mencionado; ou a frase "minhas ovelhas" ou alguma designação similar, mostrando que o povo de Cristo é distinto do resto da humanidade.

Mas vocês têm concordâncias, e eu não vou lhes dar mais problemas com textos. Através das epístolas, os santos são constantemente denominados "os eleitos". Em Colossenses encontramos Paulo dizendo: "... pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia". Quando ele escreve a Tito, ele mesmo se chama, "Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, para promover a fé que é dos eleitos de Deus". Pedro diz: "eleitos, segundo a presciência de Deus Pai". E se você vai para João, descobrirá que ele é afeiçoado ao termo. Ele diz: "O presbítero à senhora eleita"; e ele fala da nossa "irmã, a eleita". E sabemos onde isso está escrito: "Aquela que se encontra em Babilônia, também eleita". Eles não se envergonhariam desse termo hoje em dia; não tinham medo de falar disso. Atualmente esse termo tem sido revestido de uma diversidade de sentidos, e as pessoas têm mutilado e estragado a doutrina, e assim transformado-a numa verdadeira doutrina de demônios, tenho que admitir; e muitos do que se chamam crentes, têm que se intitular antinomistas. Não obstante esse fato, por que eu me envergonharia disso, se o homem o corrompe? Amamos a verdade divina tanto na tormenta quanto na bonança. Se há um mártir pelo qual temos amor antes de ele ser torturado, deveríamos amá-lo mais ainda quando ele está livre. Quando a verdade divina é desenvolvida na tribulação, não a chamamos de falsidade. Não a apreciamos para vê-la na tribulação, porque podemos discernir como deveria ser, mutatis mutandis, se ela não tivesse ido para a masmorra e torturada pela crueldade e pelas maquinações humanas. Se você vir a ler algumas das epístolas dos Pais da Igreja, você os descobrirá sempre se referindo ao povo de Deus como "eleito". Realmente, nas conversas do dia a dia, o termo usado entre as igrejas dos cristãos primitivos para uma outra era "eleito". Eles frequentemente usavam o termo para os demais, demonstrando que era geralmente aceito que todo o povo de Deus era manifestamente "eleito".

Mas vamos agora para os versículos que provam a doutrina de modo afirmativo. Abram suas Bíblias em João 15:16, e vejam que Jesus Cristo escolheu seu povo, pelo que diz: "Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda." E no versículo 19: "Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia." E no capítulo 17, versículos 8 e 9: "porque eu lhes tenho transmitido as palavras que me deste, e eles as receberam, e verdadeiramente conheceram que saí de ti, e creram que tu me enviaste. É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus".

Vá para Atos 13:48: "Os gentios, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificavam a palavra do Senhor, e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna." Eles poderiam ter omitido essa passagem, se quisessem, mas ela diz: "destinados para a vida eterna" no original tão patente quanto possível; e não nos importamos sobre os diferentes comentários existentes por aí. Vocês por pouco não precisam ser lembrados de Romanos 8, porque eu acredito que todos já estão bem familiarizados com esse capítulo e atualmente o entendem. Nos versículos 29 e seguintes ele diz: "Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou. Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus?" Seria desnecessário repetir o contexto do nono capítulo de Romanos. Tão certo quanto aquela [doutrina] se encerra na Bíblia, nenhum homem será capaz de provar o Arminianismo; tão certo quanto aquela [doutrina] está lá escrita, nem as mais violentas deturpações da passagem vão ser capazes de exterminar, das Escrituras, a doutrina da eleição. Permitam-nos ler versos como esses: "E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama), já fora dito a ela: O mais velho será servo do mais moço." Então leia no versículo 22, "Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição, a fim de que também desse a conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou de antemão" Então vá para Romanos 11:7: "Que diremos, pois? O que Israel busca, isso não conseguiu; mas a eleição o alcançou; e os mais foram endurecidos" No quinto versículo do mesmo capítulo, lemos: "Assim, pois, também agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça". Vocês, sem dúvida, vão se lembrar da passagem de I Coríntios 1:26-29: "Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação; visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento; pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes; e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus." Novamente, lembrem-se da passagem de I Tessalonicenses 5:9: "porque Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação mediante nosso Senhor Jesus Cristo". Então vocês têm meu texto, que creio ser o bastante; mas, se precisam de mais, poderão encontrá-las com mais vagar, se já tiverem removido sua desconfiança de que essa doutrina seja verdadeira.

Parece-me, amigos, que esse preponderante conjunto de testemunhos das Escrituras devem fazer vacilar aqueles que ousam rir dessa doutrina. O que dizer daqueles que frequentemente desprezaram-na, e negaram-lhe sua divindade; que sempre criticaram sua justiça, e ousaram afrontar a Deus e chamá-lo de um tirano Todo-Poderoso, quando têm ouvido dele o eleger alguns para a vida eterna? Podeis fazê-lo, ó repudiadores! arrancá-la da Bíblia? Podeis vós pegar um canivete judeu e cortá-la da Palavra de Deus? Seríeis vós como a mulher aos pés de Salomão, e ter sua criança fendida ao meio, do que vossa mui provavelmente pela sua metade? Não está assim na Escritura? E não seria vossa obrigação curvar-se ante ela, e docilmente reconhecer o que vós não compreendeis – para recebê-la como a verdade, mesmo que não podeis compreender seu significado? Não cuidarei em provar a justiça de Deus em assim ter eleito a uns e deixado outros. Não está em mim o arrazoar com meu Mestre. Ele falará por si mesmo, e assim o faz: "Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra?" Quem é ele para talvez dizer para seu pai: "Por que me geraste?" ou à sua mãe: "Por que me deste à luz?" "Eu sou o Senhor – Eu formo a luz e crio a escuridão; Eu, o Senhor, faço todas essas coisas." Quem sois vós para replicar a Deus? Trema e beije seu bordão; curve-se e submeta-se ao seu cetro; não manifeste-se contra sua justiça, e não acuse publicamente seus atos antes de seu juízo, homem!

Mas há os que dizem: "É difícil para Deus escolher uns e rejeitar os outros". Agora, eu lhes farei uma questão. Há algum de vocês aqui nessa manhã que deseja ser santo, que deseja ser regenerado, deixar seus pecados e andar em santidade? "Sim, há", alguém diz, "Eu quero". Então Deus te elegeu. Mas outro diz: "Não, eu não quero ser santo; não quero desistir da minha luxúria e dos meus vícios." Por que você reclamaria, então, que Deus não te elegeu para isso? Por isso, se você fosse eleito, disso não gostaria, de acordo com sua própria confissão. Se Deus, nesta manhã, escolheu-te para a santidade, pode dizer que com isso não se importaria. Você não reconhece que prefere a embriaguez à sobriedade, a desonestidade à honestidade? Você ama esses prazeres mundanos mais do que a religião; então por que resmungaria se Deus não te escolheu para a religião? Se você ama a religião, Ele te escolheu para isso. Se você deseja, ele te escolheu para isso. Se você não deseja, que direito tem de dizer que Deus deveria te dar o que não quer? Supondo que eu tivesse em minha mão algo a que você não dá valor, e eu dissesse que eu daria a tais e tais pessoas, você não teria direito de reclamar que eu não te dei isso. Você não pode ser tão tolo para reclamar que o outro tem o que não se importou em ter. De acordo com sua própria confissão, alguns de vocês não querem a religião, não querem um novo coração e um espírito correto, não querem o perdão dos pecados, não querem santificação; vocês não querem ser eleitos para essas coisas: então por que reclamariam? Vocês têm essas coisas como palha, então por que deveriam queixar-se de Deus que deu-as a quem ele escolheu? Se você crê nelas por serem boas e as desejam, elas lá estão para vocês. Deus deu liberalmente a todos que a desejam; e, em primeiro lugar, ele fê-las desejar, pois de outro modo elas nunca o fariam. Se você ama essas coisas, ele te elegeu para elas, pode obtê-las; mas se não as quer, quem é você para encontrar alguma falha em Deus, quando isso é a sua própria vontade desesperada para amar essas coisas – sendo que seu próprio eu faz você odiá-las? Suponha que um homem na rua diria: "que vergonha é eu não ter um banco para me assentar na igreja, para ouvir o que esse homem tem para dizer". E suponha que ele diz: "Eu odeio o pregador; não posso aguentar sua doutrina; mas ainda assim é uma vergonha eu não ter um banco para me assentar". Você esperaria um homem falar assim? Não, você talvez diria: "Esse homem não se importa com isso. Por que ele se incomodaria pelo que outras pessoas têm o que dão valor e ele despreza?" Você não gosta da santidade, você não gosta da retidão; se Deus me elegeu para essas coisas, ele te machucaria por elas? "Ah, mas" alguém diria, "Eu pensava que isso significava que Deus elegeu alguns para o céu e outros para o inferno." É uma questão muito diferente da doutrina evangélica. Ele elegeu homens para a santidade e para a retidão e através dessas [características] para o céu. Você não pode dizer que Ele simplesmente escolheu uns para o céu e outros para o inferno. Se algum de vocês adora saber que foi salvo por Jesus Cristo, ele mesmo te elegeu para a salvação. Se algum de vocês deseja obter a salvação, você é eleito para obtê-la, se deseja isso de modo sincero e ardente. Mas, se você não deseja isso, por que seria tão inoportunamente tolo para reclamar pelo fato de que Deus deu aquilo que você não quer a outras pessoas?

Continuação em Sermão Eleição  por  C. H. Spurgeon - Parte 2
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