Continuação:
II. Assim eu tentei dizer alguma
coisa com respeito à veracidade da doutrina da eleição. Agora,
resumidamente, deixem-me afirmar que a eleição é ABSOLUTA: isso quer
dizer que não depende de quem nós somos. O texto diz: "Deus nos escolheu
de antemão para a salvação", mas nossos opositores dizem que Deus
escolheu as pessoas por elas serem boas, que as escolheu levando em
conta suas diversas obras executadas. Agora, podemos perguntar, em
contestação: que trabalhos são esses levados em conta pelos quais Deus
escolheu seu povo? São eles os que comumente chamamos "obras da lei",
obras de obediência que a criatura pode prestar? Se assim o é, podemos
lhes responder – se homens não podem ser justificados pelas obras da
lei, isso nos parece muito claramente que eles não podem ser eleitos
pelas obras da lei: se não podem ser justificados por suas boas obras,
eles por elas não podem ser salvos. O decreto da eleição, então, não
pôde ser construído a partir das boas obras. "Mas", outros alegam, "Deus
os elegeu na previsão de que creriam". Agora Deus dá a fé, portanto ele
não poderia ter-lhes eleito levando em conta sua fé, que Ele previu.
Pudesse haver vinte mendigos na rua, e eu decidisse dar a eles uns
trocados; mas alguém diria que eu decidi dar a algum deles uns trocados,
porque eu previ que ele o teria? Isso seria falar algo sem sentido. Da
mesma maneira dizer que Deus elegeu homens porque previu que estes
teriam fé, que é a salvação em princípio, seria um grande absurdo para
nós ouvir no momento tal coisa. A fé é um dom de Deus. Toda virtude vem
dele. Nada pode ter influído nele, portanto, para eleger homens, porque
isso é seu dom. Estamos seguros de que a eleição é absoluta, totalmente
separada das virtudes que os santos terão mais tarde. Ainda que um santo
possa ser tão são e devoto como Paulo, ainda que ele possa ser tão
audacioso quanto Pedro, ou amável quanto João, ainda assim ele não
poderia clamar nada para seu Criador. Não conheci ainda nenhum santo, de
qualquer denominação, que pensasse que Deus o salvou porque previu que
teria essas virtudes e méritos. Agora, meus irmãos na fé: as melhores
jóias que o santo sempre usa, se são jóias de sua própria criação, não
são as das primeiras águas.
Há algo de terreno
misturado com elas. A maior graça que podemos possuir terá algo de
mundano. Sentimos isso quando somos os mais refinados, quando somos os
mais santificados, e nossa linguagem é sempre assim:
"Principal dos pecadores eu sou;
Por mim Jesus morreu."
Nossa
única esperança, nossa única argumentação, ainda se sustenta na graça,
tal como evidenciada na pessoa de Jesus Cristo. E estou seguro de que
devemos rejeitar completamente e desconsiderar toda ideia de que nossas
graças, que são dons de Deus, que foram plantadas com sua destra, possam
ter sido a causa de seu amor. Sempre devemos cantar:
"O que houve em nós que estima pudesse merecer
Ou o deleite do Criador dar?
Foi justamente do Pai, devemos sempre cantar
Porque, ao seu olhar, bom fez parecer"
"Ele
terá misericórdia de quem ele quiser ter misericórdia": Ele salva
porque ele salvará. E se vocês me perguntarem por que ele me salvou,
posso dizer apenas: porque ele assim o fez. Havia algo em mim que
pudesse me recomendar a Deus? Não: eu deixei todas as coisas de lado,
não tenho nada que me recomende. Quando Deus me salvou, eu era o mais
vil, perdido e arruinado da raça humana. Eu o exibia como um
recém-nascido em meu próprio sangue. Verdadeiramente, eu não tinha poder
para me ajudar. Oh! Quão miserável eu me senti e como me compreendi! Se
você tem algo a se recomendar a Deus, eu nunca tive. Estarei contente
ao ser salvo pela graça, sem mistura, pura graça. Não posso me
jactanciar de mérito algum. Se você pode, eu não. Devo cantar,
"Graça livre, do primeiro ao último, somente,
Têm vencido meu amor e sustentado minh’alma firmemente"
Continua em Sermão Eleição por C. H. Spurgeon - Parte 3
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